Chama-se bispo mau o que não pode se movimentar devido ao fato de suas casas estarem ocupadas por seus próprios peões. Ao acabar sem movimentos, converte-se em uma peça de escassa ou nula utilidade, ao menos até que possa se libertar.
O teórico argentino Roberto Grau, em seu "Tratado geral de xadrez", tomo IV, diz: "Muito se tem falado sobre o bispo mau, ou maldito, segundo expressão de Tartakower. Os jogadores de xadrez tem feito disso uma "cantilena" e muitos fundam sentenças absurdas, baseando-se na "bondade" ou desvantagem de tal ou qual bispo. Porém a experiência ensina que é perigoso estabelecer premissas tão graves como a do bispo mau em infinidade de posições e indica, por outro lado, que o bispo que a maioria dos aficionados qualifica de mau, pelo simples fato de estar encerrado, é necessário e até imprescindível para poder levar adiante planos vitais de luta. Isto não quer dizer que não haja multidão de partidas que se desnivelam estrategicamente pelo desequilíbrio de possibilidades entre um bispo bom e um mau."
O poeta peruano César Vallejo (1892 - 1938), em "Trilce" diz: "Vienen entonces alfiles a adherirse hasta en las puertas falsas y en los borradores"
O grande mestre inglês Nigel Short disse: "Os termos bom e mau costumam ser aplicados aos cavalos ou aos bispos, conhecidos coletivamente como peças menores. A efetividade das peças menores vem determinada pela estrutura de peões. Por exemplo, se o tabuleiro está bloqueado por um elevado número de peões, os cavalos são mais úteis devido ao fato de poderem saltar sobre as outras peças. Pelo contrário, os bispos podem ficar encurralados".
É o que ocorre na seguinte partida do Campeonato de Cuba. Corresponde à décima sexta rodada. Grande parte da estratégia das brancas é centrada na exploração da imobilidade do bispo negro da coluna c.
Brancas: Lenier Domínguez (2594)
Negras: Ariam Abreu (2480)
Holguín, Cuba, 18 de abril de 2002
Defesa siciliana, variante O Kelly, (Eco B28)
1. e4 c5 2. Cf3 a6 3. c4 Cc6 4. d4 cxd4 5. Cxd4 Cf6 6. Cc3 Dc7 7. Be2 e6 8. O-O Bd6 9. Rh1 Be5 10. Be3 Bf4 11. Bxf4 Dxf4 12. Cxc6 bxc6 13. Dd4 O-O 14. Tad1 e5 15. Dd6 (É evidente a intenção do bando branco de impedir a liberação do bispo negro de c8) Cxe4 16. Cxe4 Dxe4 17. Bd3 Dh4 18. Dxe5 d5 19. cxd5 cxd5 20. Dxd5 (Para liberar o bispo as negras tiveram que ceder dois peões por um) Tb8 21. De5 Bb7 (Recém entra em ação o bispo, porém...) 22. f3 g6 23. b3 Tfe8 24. Dc7 Tec8 25. Da5 De7 26. Bc4 Tc5 27. Dc3 Th5 28. Dd4 Tf8 29. Tfe1 Da3 30. Db6 Bc8 (O bispo maldito continua como tal) 31. Td8 Da5 32. Dxa5 Txa5 33. Tee8, a negras abandonam, 1-0
Artigo de Javier Vargas, publicado originalmente no site Clube de Xadrez Torre21.
domingo, 30 de dezembro de 2007
O bispo maldito
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